terça-feira, 24 de março de 2009

“Copa Verde” ? Até que ponto é sustentável?

por Thiago Toledo

Durante a Ecogerma 2009, feira de tecnologias sustentáveis realizada em São Paulo,  houve um debate sobre a Copa do Mundo de 2014 - na qual a sede será no Brasil - e foi levantada a idéia de se construir, ou de reaproveitar estádios já feitos, em um modelo sustentável em termos de infraestutura. Os defensores da idéia intitularam-na de “Copa Verde”. Mas até que ponto isso é realmente sustentável?

As tão acalmadas EcoArenas a serem construídas, segundo a definição do arquiteto Vicente de Castro Mello “seriam estádios ecológicos, construídos de forma a causar o menor impacto ambiental possível, sem desperdício de materiais e com maior eficiência energética. Parte de sua demanda interna de água e energia seria suprida por painéis fotovoltaicos para captura de energia solar e por sistemas de coleta de água da chuva, que seria tratada e reaproveitada na irrigação do campo e em instalações sanitárias.

Muito bonito. A questão é a seguinte: isso tem um gasto e mesmo que seja ambientalmente correto pode sim se tornar apenas elefantes brancos em nosso pais, ou ainda mais agravante, dinheiro público desperdiçado.

São três os modelos de estádio já projetados com esse tipo de trabalho ecológico. O primeiro fica no Paraná, e pertence ao clube empresa J. Malucelli. Foi construído todo com dinheiro privado.

 

É um estádio acanhado, modesto, só cabem 6.000 torcedores, mas segue estes padrões de forma eficiente. Além de estar em um estado em que o futebol é crescente. Perfeito, deixa lá.

Os outros dois projetos com ambições maiores são os de Brasília e Cuiabá. O primeiro possui uma liga fraquíssima de futebol, e o mais grave, recentemente já teve um outro estádio construído, o “Bezerrão”, todo com dinheiro público na gestão de José Roberto Arruda. Aquele mesmo que em 2001, ainda exercendo o mandato de senador e ocupando a liderança do governo no Senado, envolveu-se, juntamente com o então senador Antônio Carlos Magalhães, na violação do painel eletrônico do Senado Federal, utilizado na votação que cassou o mandato do ex-senador Luís Estevão. Admitiu a culpa, renunciou ao cargo, evitou o processo de cassação do seu mandato, que poderia torná-lo inelegível por aproximadamente 9 anos e se tornou governador do Distrito Federal em 2006. Você confiaria?

O outro estádio está em Cuiabá. Com todo respeito ao povo de Mato Grosso. Qual a representatividade do futebol, não só do Mato Grosso, mas da região central do pais, com exceção feita a Goiás? Nenhuma. Vai construir estádio, mesmo que seja sustentável, para quê? Para quem?

Só o Mané Garrincha em Brasília, se fosse fazer obras deste tipo, ficaria seu gasto orçado em torno de R$522 milhões. Quem olha estas cifras pensa que Brasília tem hospitais de primeira grandeza, segurança perfeita, transporte público excelente, tudo perfeito. Se tem dinheiro para gastar em estádio, mesmo que seja sustentável, é porque não precisa gastar com o bem estar da população. Não é mesmo? É o que parece.

Adicionar imagemAdicionar imagem                       Abaixo desenho do novo Mané Garrincha. R$522 milhões

E isso vale para todas as 14 sedes deste país. Quer construir estádio sustentável? Muito bem, construa. São melhores que os normais? Sim são. Mas tem que ser feito com dinheiro privado, dinheiro público é para a saúde, segurança, educação e outras atribuições que o Estado tem para com o seu povo. E não me venha com essa história de que vai deixar um legado para o país depois da Copa do Mundo. Quem viu o Pan-Americano no Brasil, sabe o legado que fica. É só para alemão ver. 

Um comentário:

Luis Corvini Filho disse...

Belo post, perfeito para a conscientização no país do futebol!
Parabéns Thiago!