sábado, 5 de dezembro de 2009

BIOSFERA: Especial COP15

Conheça Renata Hortência Sales, a única brasileira patrocinada pelo COP15

Renata em palestra no seu mestrado na Universidade Técnica da Dinamarca

A poucos dias da Conferência do Clima da ONU, que se inicia no próximo dia 7 em Copenhague, na Dinamarca, o BIOSFERA traz para você uma entrevista exclusiva com a única brasileira, selecionada dentre 800 candidatos, a obter uma bolsa de mestrado custeada totalmente pela COP15.

por Luis Corvini Filho
No lugar de brindes, bolsas de estudo. Foi assim que os organizadores da Conferência sobre as Mudanças Climáticas, a COP15, decidiram contribuir para o futuro do planeta. Como em todo grande evento, presentinhos para participantes são algo comum. Não desta vez. O evento, que reunirá mais de 14 mil pessoas na cidade, terá o custo dos brindes totalmente revertido para onze estudantes de diversas partes do mundo cursarem mestrado na Dinamarca.

E entre os contemplados, temos uma representante tupiniquim: a cearense Renata Hortência Sales.


A jovem de 26 anos é natural de Fortaleza, no Ceará e se formou em engenharia civil em 2008. Desde seu período acadêmico, publicou alguns artigos relativos ao desenvolvimento sustentável. Um deles aborda a creditação de carbono em aterros sanitários e os outros, mais técnicos, sobre reaproveitamento de resíduos em pedreiras e temperatura das fundações de concreto de aerogeradores.

No último ano de faculdade, Renata trabalhou para uma multinacional no planejamento de quatro parques eólicos na costa nordestina: Pararucu, Praia Formosa, Foz do Rio Choro e Icaraizinho. Ela até brinca da dura rotina que tinha: “morei dois meses na praia de Camocim, pertinho de Jericoacoara. Meu escritório era na praia”.

Renata e seus objetos de estudo, as turbinas eólicas, na Dinamarca

A partir daí, Renata começou a conhecer o mundo. Ganhou uma bolsa de estudos pelo DAAD alemão, e passou um mês no país germânico estudando energias renováveis. Depois, decidiu aprimorar o inglês e partiu para os Estados Unidos, na busca de algum mestrado na área.

A jovem mal teve tempo de escolher, pois foi novamente chamada para trabalhar em outra grande empresa italiana do ramo energético. Segundo Renata, a multinacional está desenvolvendo 1000MW em energia eólica no Brasil, equivalente à implementação de mais de 500 turbinas. “Comecei a trabalhar nos projetos tanto de repotenciação de hidrelétricas como em projetos eólicos”.

Foi quando, apenas uma semana após o início na nova empresa, Renata foi surpreendida novamente: “Recebi uma carta da DTU (Universidade Técnica da Dinamarca) falando que tinha ganhado uma bolsa da COP15. Até então, eu não sabia que existia essa bolsa”. Renata disse que fez inscrição somente em duas universidades no período que ficou nos EUA, e a DTU foi uma delas.

A Dinamarca é um dos países que mais investe para limpar sua matriz energética


A Universidade fez todo o serviço por ela. Como Renata foi considerada uma das cinco melhores entre os inscritos, a instituição enviou seus dados para uma disputa com mais de 800 estudantes de todo o mundo a “bolsa da COP15”. Ela então se tornou uma das onze pessoas totalmente financiada pela Conferência das Mudanças Climáticas da ONU. A única em todo o Brasil.

O valor gasto em brindes para as cerca de 14 mil pessoas, entre ONGs, palestrantes, ouvintes, Chefes de Estado e imprensa participantes da Conferência seria de quase 540 mil Euros. Esse imenso montante de dinheiro será revertido para o conhecimento de Renata e dos outros escolhidos, vindos da Índia, EUA, Latvia, China, Nigéria, Paquistão, Bangladesh, Camarões, Gana e Colômbia.


E bem que os chefes italianos de Renata tentaram manter a profissional no quadro de funcionários, mas não havia jeito. Apenas três meses depois de seu início na empresa, ela arrumou suas malas e embarcou para a Dinamarca.

Renata (ao centro) com os colegas de Gana, Camarões, Latvia, Índia e Nigéria

A jovem chegou no país nórdico para seu mestrado em Energia Eólica no final de agosto (na Europa e em todo o hemisfério norte, o início do ano letivo se dá em setembro). A Universidade em que estuda é muito bem conceituada em todo o mundo. Considerada a 3a melhor Universidade de Engenharia da Europa e a 20a do mundo, pelo ranking da Times Higher Education.

Ela já conheceu os outros também agraciados pela Bolsa internacional. Um deles, o colega latino-americano vindo da Colômbia, é colega de classe dela. “Ele é muito inteligente”, diz.

Toda essa especialização visa preparar esses profissionais para um futuro complicado. A própria reunião da COP15 já é um alerta para isso. Dada como um fiasco e renascida novamente, depois de declarações controversas de EUA e China. No primeiro momento, as potências negaram um acordo para o clima. Dias depois, voltaram atrás, anunciando 17% e 40% respectivamente, no corte das emissões de cada país.

Transporte de hélice de turbina eólica


Nesse ponto, Renata pensa positivamente: “Falei isso em meu blog. Não acho que exista motivo nenhum em ser pessimista em uma reunião que discute acordos e ideias para amenizar mudanças climáticas e emissões de gases do efeito estufa. A sociedade está cada vez mais consciente e tem como pressionar os políticos a firmarem acordos entre si”. A jovem estará presente na Conferência do Clima.

Mas, uma vez citando as políticas ambientais do Brasil, a estudante é mais crítica: “me preocupa muito o descaso do governo com o desmatamento na Amazônia e a seca no pantanal. Acho que o Brasil deve ser mais agressivo no que diz respeito a suas reservas naturais”. Ela cita que o país é exemplo para o mundo no uso do etanol e de energias renováveis. Na Dinamarca, “as pessoas ficam impressionadas quando descobrem que nossos postos de gasolina tem etanol e que muitos carros são flex”. Ela deixa a crítica: “O Brasil deve tratar o desmatamento com a mesma atenção que trata o etanol”.

Renata planeja terminar os estudos e voltar para o Brasil, para consolidar na prática todos os conhecimentos adquiridos no país que, durante duas semanas, será o centro de decisões para o futuro do planeta. Podemos fazer uma triste brincadeira aqui, ao dizer que mesmo que a Conferência naufrague, teremos onze “sobreviventes”, muito bem preparados para vingar o clima mundial.


crédito fotos: reprodução / cop15

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